Os laços que nos unem à vida: reflexões sobre o imaginário crítico de Roberto Bergalli e a literatura escrita por mulheres
| Author | Míriam Coutinho De Faria Alves |
| Profession | Doutorado pela Universidade Federal da Bahia ( UFBA). Professora do Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS) |
| Pages | 301-318 |
| BRUNO AMARAL MACHADO | CEUB | COORDENADOR |
Resumo Este ensaio destina-se ao reencontro com a memória, em ho-
menagem ao pensamento de Roberto Bergalli. Nesse sentido estabele-
ce relações entre o imaginário literário e a perspectiva da sociologia do
controle penal. Desse modo, investiga narrativas de mulheres em situa-
ção prisional e visa a partir da escrita literária de Clarice Lispector refletir
sobre as relações entre controle social penal, identidade e memórias na
perspectiva da criminologia crítica.
Palavras-chave Roberto Bergalli; imaginário literário; criminologia crítica.
301
10
Os laços que nos unem à vida:
reflexões sobre o imaginário
crítico de Roberto Bergalli e a
literatura escrita por mulheres Míriam Coutinho
de Faria Alves
Doutorado pela Universidade
Federal da Bahia ( UFBA).
Professora do Departamento
de Direito da Universidade
Federal de Sergipe (UFS).
Pesquisadora Líder do Grupo
de Pesquisa Direito, Arte e
Literatura CNPq/UFS).Membro
honorária da Rede Brasileira
de Direito e Literatura.
Email:miriamfaria2002@
yahoo.com.br
1. Considerações iniciais: «caminante, no
hay camino, se hace camino al andar»
Na sala de Roberto Bergalli, na Faculdade de Direito da Universi-
dade de Barcelona, havia um cartaz com a frase do poeta espanhol An-
tônio Machado: «caminante, no hay camino, se hace camino al andar».1
1 Cf. Machado, Antônio.In: Proverbios y cantares. Poesías completas, ES-
PASA – CALPE, S. A. Disponível http://iesjimenezlozano.centros.educa.
Los lazos que nos unen a la vida: reflexiones
sobre el imaginario crítico de Roberto
Bergalli a los estudios entre criminología
crítica y literatura escrita por mujeres
302 | BRUNO AMARAL MACHADO | CEUB | COORDENADOR |
Coleção Criminologia, Direito Penal e Política Criminal
La sociología del control penal en España y Latinoamérica. Homenaje a Roberto Bergalli
GABRIEL I. ANITUA, ENCARNA BODELÓN, BRUNO A. MACHADO, MARTA MONCLÚS, IÑAKI RIVERA BEIRAS COMPILADORES
A poesia de Antônio Machado comungava simbolicamente
com as marcas do tempo. Tempo que transcorria numa espécie sim-
bólica de aviso: não há caminho. Há a travessia, o caminhar, passa-
gem de forma significativa que deixa na memória marcas de ensina-
mentos fincados num pensamento pulsante e transformador, aquele
que nos impulsiona a seguir em frente. Nesse sentido, parafraseando
Jean-luc Nancy (2014, p. 15) «aprendi o sem/passo (da) questão», ou
seja, a investigar o cerne, o núcleo fundante, a saber que neste andar,
mesmo diante da transitoriedade do caminho, há algo que perma-
nece, aquilo que se fixa na memória dando força e autenticidade ao
caminhar.
O pensamento de Roberto Bergalli vasto e frutífero, reverbera
no núcleo das quetões autênticas e fundamentais, em torno crimi-
nologia, democracia e controle social penal. Este texto destina-se, de
forma breve, a rememorar vivências e refletir sobre a contribuição
de Bergalli, num diálogo entre o imaginário literário e a criminologia
crítica.
No espaço literário contemporâneo, a escritora brasileira Cla-
rice Lispector (1920-1977) transita por um imaginário ficcional que
nos faz repensar a condição feminina em face do controle social
punitivo. Quando estudante de direito, Lispector escreveu o artigo
observações sobre o direito de punir onde questionava os instâncias
penais punitivas e a segregação do sistema prisional, tensionando os
fundamentos jusfilosóficos do direito penal, pontuando que «não há
direito de punir. Há apenas poder de punir.» ( Lispector, p. 45)
Observo no percurso da escritora, a recorrente busca identitá-
ria em meio a uma experiência epifânica de perdas, desejos de justi-
jcyl.es/sitio/upload/machado-antonio-poesias-completas.pdf. Acesso
em 25 de agosto de 2020.
To continue reading
Request your trial